Acordamos cedo, debaixo de
muita chuva, rumamos via Cochrane e Vila Chacabuco para passar pelo Passo
Roballos até a Ruta 40 na Argentina. Depois de 13 km pegamos uma entrada de 47
km até a Cueva de Las Manos (Monumento Histórico Nacional). Lugares este, estão
manifestadas através de pinturas rupestres a história de civilizações de quase
10 mil anos atrás. Neste dia percorremos
352 km de puro rípio. Resolvemos acampar neste lugar e a noite o vento foi
muito intenso, balançando muito a barraca e o carro, quase não deixou nós
dormimos. A visita é muito interessante, vale a pena desviar do caminho e
entrar para visitar.
Continuando na Ruta 40
passando por lugares desérticos e sem vestígios de civilizações. De vez em
quando se vê algumas estâncias de criações de ovelhas. Chegamos à noite em El
Calafate depois de termos percorridos 545 km. Aqui alugamos uma cabana para
passar uns dias e por as coisas em ordem. Daqui fomos visitar o Glacial Perito
Moreno e fomos abençoados por um belo dia de sol. Passamos o dia apreciando
esta beleza da natureza, escutando de vez em quando o barulho do desprender e
queda do gelo na água. O barulho é único e emocionante. A natureza é
fantástica. Fizemos um belo pic-nic. Retornamos a noite para El Calafate.
Em El Calafate aproveitamos
para fazer as manutenções do carro, troca de óleo, filtros, etc e também para
comprarmos alguns alimentos. Estávamos com muita saudade para comer feijão,
compramos todos os ingredientes e fizemos uma feijoada. Matamos a vontade.
Impressionante como sentimos a falta de coisas da nossa cultura.
Saímos de El Calafate pela
Ruta 40 até o povoado de El Cerrito. Dali pegamos uma estrada de rípio até o
entroncamento da rodovia vinda de Rio Gallego, onde tem um posto de combustível
na Estância Tapi Aike. Desse trecho até a fronteira do Chile está tudo
asfaltado. Há outro caminho também indo até o povoado Esperanza e seguir para
fronteira do Chile também.
Ao terminar o asfalto perto
da fronteira, temos que ter a atenção devido à má sinalização para quem quiser
entrar pelo norte no Parque Torre Del Paine. Ali tem uma placa indicando Cancha
Carrera, não informa sobre o Passo que hoje leva o nome de Passo Rio Don
Guillermo. No verão te outro Passo para quem quiser vir de El Calafate entrando
direto no Parque Torre Del Paine de nome Passo Zamora o La Rosada. Com isso
economiza muitos quilômetros. Visitamos o Parque abaixo de chuva não nos
deixando ver um belo visual, pois no ano de 2000 o visitamos num belo dia de
sol. Dali, depois de percorrer o parque, seguimos para Puerto Natales e Punta
Arenas, cidade esta muito charmosa em virtude da praça central. Percorremos 649
km e passamos a noite.
Pensamos em pegar o ferry de
Punta Arenas até Porvenir, mais sairia só depois das 03h00min horas da tarde, e
neste lado é muito demorada. Resolvemos seguir pela Rod.09, depois pela
Rod.255, logo há um entroncamento com a Rod.257, levando até a Punta Delgada,
onde tem um ferry que faz a travessia até o Puerto Espora.
Depois que atravessamos o
Estreito de Magalhães, seguimos novamente para a fronteira com a Argentina na
cidade de San Sebastian. Ali tem um hotel e um posto de combustível da ACA –
Automóvel Clube da Argentina. Chegamos à noite com muita Chuva. Na Aduana foi
tudo muito rápido e organizado e nos informaram que estava nevando muito forte
no Passo Garibaldi que dá acesso a Ushuaia. Eles nos recomendaram passar a
noite na cidade de Rio Grande, uma vez que o hotel da fronteira já estava
cheio.
O frio da noite nos fez
acordar um pouco mais tarde. Tomamos o nosso café da manhã e rumamos com
destino a Ushuaia. O caminho estava fantástico, muito gelo e sol, dando um
brilho muito especial, vislumbramos os efeitos da grande nevasca da noite
anterior e conferir sem exageros a maravilha da neve. Para o turismo a neve é
fantástica, todos param, admiram e começam a jogar bola entre si. Viramos
crianças novamente.
Chegamos a Ushuaia, depois de
percorremos 245 km de Rio Grande, e fomos alugar um pequeno apartamento para
passar uns dias e nos prepararmos para o retorno ao Brasil. É claro, sem muita
pressa, sem stress, admirando e conhecendo os lugares da costa da Argentina e
Uruguai.
Outra grande emoção foi rever
o Oceano Atlântico depois de sete meses, tendo em vista, que até a Venezuela
nos banhamos em suas águas límpidas e quentes. Com esta proximidade nos
sentimos muito perto de casa. Não precisa nem falar do tamanho da saudade, mas
ainda estamos firmes para concluir o nosso propósito em dar a volta completa,
em todos os extremos, na América do Sul, circulando o Oceano Atlântico e
Pacífico, realmente 360º graus...
Ushuaia, as margens do Canal
de Beagle, é uma cidade pequena e muito interessante. Aqui tem cheiro de
história. Muitos aventureiros e exploradores dos sete mares sucumbiram diante
da fúria do mar. Como todo início de civilização, o desenvolvimento começou com
a vinda de prisioneiros para fazerem os trabalhos de infraestrutura e com eles
vieram seus familiares. Visitamos o museu da marinha onde abrigava a antiga
penitenciária, contando como foi constituído o primeiro jornal, ferraria,
sapataria, farmácia, padaria, serviço médico, entre outros... Sem falar nas
estradas, ferrovias, energia elétrica, entre outras tantas que foram
construídas por estes detentos.
Circulamos muito, visitamos a
Baía de Lapataia, vários lagos e subimos o Cerro Martial. O dia estava lindo,
sendo que o tempo muda muito rápido aqui em Ushuaia. Tivemos chuvas à noite e
até o meio dia, ventou, veio o sol, nevou na montanha, voltando o sol
novamente. Então, as mudanças são rápidas e não podemos demorar em aproveitar o
tempo quando ele está bom.
Ali no Cerro Martial, tem uma
pista de esqui que subimos através do teleférico, mostrando um belo visual de
suas árvores e riachos, ainda por cima muita neve, chegando a alguns lugares
até a altura dos joelhos. Tínhamos muito cuidado ao atravessar as pequenas
pontes, devido estar completamente cobertas de gelo, e no gelo, o perigo é
escorregar e cair. Quando não há consequências sérias, torna-se muito
divertido, principalmente vendo o próximo cair...
Domingo, fomos conhecer o início do Canal de
Beagle, ponta extrema até a Estância Moat, fundada no ano de 1898, percorremos
260 km, ida e volta de rípio, mas com vista imperdível, ainda mais num belo dia
de sol. No início pegamos alguns pedaços com gelo no caminho, e ai tem que ter
muito cuidado para não ter acidente. Depois de passar este trecho, foi só
apreciar a natureza. No trajeto, podemos olhar a cidade de Puerto Willians do
outro lado do canal, competindo com Ushuaia em ser a cidade mais austral, ou
melhor, a cidade do fim do mundo. Segundo os chilenos é Puerto Willians e os
argentinos dizem que é Ushuaia. Uma briga muito interessante pelo turismo. De
volta a Ushuaia, no alto do Apart Hotel Além, que fica no alto da montanha,
pudemos admirar toda a cidade, as montanhas e o porto, pois começou a nevar
novamente.
A neve terminou de cair à
noite e de manhã já aliviado por isso, passamos a arrumar o carro e dar
sequencia ao nosso roteiro. Antes de chegar ao Passo Garibaldi, começamos a ver
muito gelo e neve na pista. Redobramos a atenção, pois a pista estava
escorregadia e aí tivemos que tracionar o carro e dirigir na ponta dos dedos. O
visual do Passo Garibaldi é incrível, todo coberto de neve, tem um mirante no
alto, mas como o vento soprava forte e mesmo assim saímos do carro para
apreciar a vista. Vale a pena. Esse vento nos seguiu por todo o caminho até
depois da fronteira com Chile, segurando o carro, por isso temos que dar mais
rotação no motor e aumenta sensivelmente o consumo de combustível e quando vem
um caminhão no sentido contrário faz um deslocamento de ar que balança muito o
carro. No dia de hoje, fizemos quatro vezes fronteira Chile/Argentina,
percorrendo 566 km e fomos passar a noite em Rio Gallego.
No dia seguinte, percorremos
421 km até a cidade de Puerto Julián, famosa por ter sido a cidade de apoio na
Guerra das Malvinas. Como ventava muito, preferimos dormir em uma pousada.
Tentamos fazer alguns passeios, mas o tempo ruim não permitiu. Assim sendo,
continuamos tocando pela Rute 3 até Puerto Deseado. No caminho, fizemos um
desvio de 50 km de estrada de rípio até ao Parque dos Bosques Petrificados.
Fantástica a visão das árvores petrificadas há mais de 150 milhões de anos. Ali
tem um museu que mostra de uma forma cronológica a evolução dos tempos. Fizemos
uma caminhada numa trilha de 2 km no meio do bosque petrificado.
Voltamos a Ruta 3 e tocamos
por 485 km para Puerto Deseado. Aguardamos por dois dias o tempo melhorar para
fazer o passeio pelo Rio Deseado. Infelizmente não ocorreu a melhora e tivemos
que seguir. O termômetro marcava -3ºC, e quando passamos por Comodoro Rivadavia,
subimos uma serra que levava a uma planície que estava completamente coberta de
neve. As retas eram intermináveis e quando via algum veiculo no sentido
contrário, dávamos e recebíamos sinais de luz, tentando uma confirmação para
ver se os motoristas estavam concentrados na pista. Em certo momento a nossa
frente ia um caminhão que constantemente saia da pista, foi que o motorista
teve um bom senso e parou para descansar fora da pista. Vimos vários casos.
Percorremos 697 km e fomos passar a noite na simpática cidade de Trelew.
Depois, no dia seguinte, levantamos e fomos em direção a Rawson. No caminho
vimos muita barricadas de pneus devido à greve dos empregados das empresas de
pesca, solicitando melhores condições de trabalho e salário. A informação que tínhamos
era de que em Puerto Madryn estava bem mais agressiva a greve, inclusive
impossibilitando a passagem de veículos. Ficamos preocupados, pois íamos passar
por lá.
Seguindo pela Ruta 3,
desviamos e tomamos a direção de Puerto Pirâmide na Península Valdez,
percorrendo 388 km. Este lugar fica dentro da Reserva Natural Protegido, e pela
primeira vez tivemos vantagens em relação aos outros turistas europeus e
americanos. Quem é do MERCOSUL tem desconto para entrar no parque. Andamos por
30 km e logo tem um museu com todas as explicações do parque. Em cada ponto da península
encontra-se várias espécies de animais marinho e outros protegidos da extinção.
Vimos muitos lobos e elefantes marinho. Pinguins e baleias já se foram,
retornam no final do ano para começarem um novo ciclo. Baleia Orca, somente nos
meses de março a abril, quando os filhotes de lobos e elefantes marinhos estão
indo para o mar. Ela vem justamente para se alimentar desses animais.
Percorremos toda a península e vimos desde guanacos, tatu e muitos pássaros.
Dormimos no camping municipal
e seguimos com destino a cidade de Viedma, entrada da patagônia, percorrendo
528 km. A parte central da cidade é margeada pelo Rio Negro que divide a cidade
Viedma e Carmen dos Patagones. Viedma é uma cidade moderna, muito arborizada e
se vê muitas pessoas se exercitando nas ruas. Soubemos que na época do império,
no ano de 1827, o Brasil perdeu uma batalha para os Argentinos, chamada Batalha
de Patagones. Os brasileiros entraram pelo Rio Negro em dois navios, contendo
600 homens e do alto da colina foram avistados e derrotados. Comemora-se o dia
07 de março com muito fervor. Mas esta guerra era coisa do passado, pois nesta
cidade o povo é muito receptivo, demonstrando gostar muito dos brasileiros.
Dando sequencia ao trajeto
pelo Ruta 3, dormimos em um hotel perto de Bahia Blanca, junto ao posto YPF,
lugar limpo e bem organizado.
No dia seguinte rumamos
também pela Ruta 3 até Cañuelas, depois pela Ruta 6, até Zárate, depois pela
Ruta 12 até a cidade de Gualeguaychú, depois a Ruta Internacional 136 e logo no
início antes de uma ponte há um camping de nome Puerta Del Sol, onde passamos a
noite depois de 951 km.
No dia seguinte, passamos a fronteira
para o Uruguai e como era feriado de 1 maio, fomos acampar no Balneário Lãs
Cañas, no Camping Municipal, muito legal o local, tendo vários serviços, como
mercado, restaurante, etc.
Continuando no Uruguai,
seguimos o roteiro passando por Fray Bentos, Mercedes, Dolores, Nueva Palmira,
Carmelo até a cidade Colônia do Sacramento, onde acampamos no Camping
Municipal, em frente à avenida costaneira do Rio Del La Plata.
Colônia do Sacramento, mais
conhecida como Colônia, foi fundada no ano de 1680, pelo português Dom Manuel
Lobo e é considerada a cidade mais antiga do Uruguai. Esta cidade foi alvo de disputa entre os
espanhóis e portugueses na divisão de suas terras. Sendo que em 1750, foi
firmado um acordo no qual estas terras ficaram com os espanhóis. Mas, os
portugueses missionários jesuítas discordavam do acordo e ficaram ali até 1762,
quando definitivamente foi ocupada pelos espanhóis. A cidade é muito charmosa,
tendo suas construções preservadas e tornaram-se Patrimônio Cultural e Natural
da Humanidade.
De Sacramento seguimos o
roteiro até a simpática capital Montevideo, onde pudemos circular a pé por suas
avenidas centrais. Depois rumamos até o Balneário de Atlântida, muito agitada
no verão, onde pernoitamos em um dos campings da cidade.
No dia seguinte, seguimos
para Punta Del Leste e devido às chuvas e frio estava muito calma. Depois
continuamos a nossa saga com destino a fortaleza do belo Parque Nacional de
Santa Teresa, com seus belos jardins de verão e inverno. Vale a pena conhecer
este lugar também. Tem muito lugar para acampar.
Chegamos ao nosso Brasil por
Chuí, com muita alegria e emoção por depois de muito tempo pisar na nossa
terra. É fácil saber que estamos no Brasil, pois as rodovias estão mal
sinalizadas, o mato tomando conta do acostamento, muitos acidentes. Mas, enfim
é a nossa terra, nosso povo simpático, falar a nossa língua, e ainda mais
passar pela bela Reserva do Taim, sem falar na nossa comida.
Ao passarmos o limite para
entrar no nosso estado de Santa e Bela Catarina, encontramos um casal muito simpático
(Família Kumm), que tínhamos nos encontrado no ano anterior na FENAJEEP (a
maior feira de off road do Brasil) na cidade de Brusque. Almoçamos juntos e
eles iriam viajar pela América do Sul (hoje ano 2017 estão na América do
Norte).
Passamos por Floripa,
seguimos até a nossa querida Bombinhas. Quando estávamos em cima do morro,
pudemos avistar Mariscal, praia longa e bonita, toda iluminada. A emoção foi
muito grande, chegando em casa, amigos e familiares nos esperavam. A saudade
era enorme, muita conversa, peixe frito, regada a muita cerveja, o papo entrou
madrugada adentro.
A sensação que temos por ter
realizado um grande sonho, principalmente por ter sido planejado, desejado, e
longo, e termos vividos experiências maravilhosas, um aprendizado fantástico, é
como se tivéssemos nascidos novamente, encerrando um grande ciclo, e que daqui
para adiante, com essa força espiritual, recomeçaremos com muito mais
entusiasmo, determinação e superando as situações adversas de nossas vidas.
Agradecemos ao nosso bom DEUS
por nos ter dado a oportunidade de realizar este sonho. Agradecer também as
pessoas que nos apoiaram nessa expedição, contribuindo para nosso aprendizado,
nos enriquecendo com seus comentários, sugestões, rezando por nós e nos dando
forças para a concretização do nosso Objetivo.
Essa expedição ocorreu no ano
de 2004 a 2005, foram 11 meses de viagens por todos os países da américa do
Sul.
Agora dia 30/01/2017 vamos
realizar o nosso novo sonho. Ir até ao Alaska com o nosso Motor Home. O nome
será Expedição Brasil até ao Alaska.
Abraço em todos que nos
acompanharam.